Número representa 0,8% dos que ingressaram em Medicina, Direito e Engenharia desde a criação do programa de inclusão; para frei David Raimundo dos Santos, da ONG Educafro, sucesso do Inclusp tem de refletir nos cursos mais tradicionais
02 de junho de 2012 | 3h 06
Desde que a Universidade de São Paulo (USP) criou em 2006 o Programa de
Inclusão Social da USP (Inclusp), Medicina, Direito e Engenharia -
cursos de ponta - matricularam 87 alunos pretos até o vestibular de
2011. O número refere-se a 0,8% dos matriculados nas carreiras. Os dados
do processo seletivo de 2012 não estão disponíveis no site da Fuvest e a
universidade não os forneceu. Preto é a terminologia usada pelo IBGE e
pela USP para definir a cor da pele.
Anteontem, a Faculdade de Direito aprovou recomendação para que a USP
adote o sistema de cotas raciais. A decisão será encaminhada ao Conselho
Universitário, órgão principal USP, a quem caberá discutir a adoção da
medida. O conselho é, tradicionalmente, contrário à ideia de cotas. A
USP entende que o sistema de bônus do Inclusp, voltado a alunos de
escola pública, independentemente da cor, já atende as demandas por
inclusão.
No processo seletivo de 2012, a universidade matriculou 28% de alunos
vindos de escolas públicas. No ano anterior, esse índice foi de 26% - o
que refletiu na inclusão de 2,8% de pretos e 10,6% de pardos,
totalizando 1.409 alunos com esse perfil.
A proporção de pretos e pardos, que em geral constitui os beneficiados
das cotas, foi, portanto, de 13,4% em 2011. O índice não reflete o
perfil da população do Estado de São Paulo, que tem 34,6% de pretos e
pardos. No Brasil, esse número é 50,7%. Os resultados ainda estão longe
das reivindicações do movimento negro e da realidade do País, mas a
proporção de 2011 é maior do que registrada dez anos antes.
Pouco. O diretor da ONG Educafro, frei David Raimundo dos Santos,
ressalta que o sucesso do programa de inclusão da USP tem de se refletir
nos cursos mais tradicionais. "Se a USP consegue com o Inclusp colocar
pretos em Medicina e Direito, os demais também terão inclusão."
Ao olhar para esses cursos, a situação é gritante. Desde 2006, apenas 12
alunos pretos entraram no curso de Medicina da USP. O melhor resultado
foi em 2009 e 2007, quando cinco pretos conseguiram ser aprovados.
Em 2011 e 2010, nenhum aluno preto passou pela peneira do vestibular da
Fuvest para Medicina. Os pardos responderam por 6,7% das matrículas em
2011.
Nas carreiras de Direito e Engenharia na Escola Politécnica, a situação é
um pouco mais favorável. No Largo São Francisco, cuja congregação
aprovou recomendação às cotas, apenas três pretos se matricularam em
2011. Somados os 40 pardos, a unidade alcança 7,6% de alunos com esse
perfil, que também fica bem abaixo da média da USP.
Na Poli, os oito pretos que se matricularam em 2011 representam a maior
proporção de público desse perfil desde 2006. Somando ao pardos, o
índice foi de 7,1% na seleção de 2011.
De acordo com o diretor da Poli, José Roberto Cardoso, é remota a chance
de a unidade debater as cotas, a exemplo do que ocorreu no Direito.
"Nunca houve nenhum movimento para esse debate. O mérito para nós é
fundamental, estamos muito satisfeitos com o Inclusp", diz ele. "Temos
estudantes negros, evidentemente são poucos. Mas não é culpa da Escola
Politécnica. A inclusão não depende de cor, depende de ser de escola
pública."
Para o professor Elder Garnes, da Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas (FFLCH), a ausência de mudança no perfil dos alunos,
mesmo após o Inclusp, mostra que o sistema de inclusão não favoreceu a
entrada do negro. "A USP sempre foi contra as cotas. É só ver que o
Inclusp não serviu para incluir esse grupo", afirma ele, membro da
diretoria do sindicato de docentes (Adusp).
A reportagem procurou a Faculdade de Medicina, mas o diretor não foi
encontrado. A reitoria informou que não seria possível entrevistar o
reitor João Grandino Rodas sobre o tema.
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